Regresso. Mulher
- Ruth Collaço

- 25 de mar.
- 2 min de leitura
De mão estendida aberta regresso a mim
Chamo o meu nome evoco um passado
Trago em meu peito tantos reboliços
Que fazem tremer as paredes que sou
Ergui a muralha para me conter
Reter o que sou e acabar a luta
Mas eis que de dentro surgiu a batalha
De ser quem eu sou e não quem tu queres.
Contemplo este corpo sulcado com a escrita
Que o meu destino rimou com a vida
Zangada e impulsiva eu bati o pé
De mim insurgiu o grito cansaço
Querendo então murais desabar
Caí de joelhos perante a verdade
E subi com coragem a torre do medo
De ser a mulher de meu desapego.
Lancei-me num voo além das muralhas
Larguei quem me fiz salvei quem eu sou.
(...)
Mulheres são torres, castelos erguidos
Na forja de "homens" são espadas vencidas
Mas só quando o homem se despe do medo
Se abrem as portas. Castelo segredo!
Não temas ser homem de força despido
Tão pouco tu queiras castelos, conquistas
Se pensas ser homem, que bebe da seiva
Do fruto proibido não queiras provar
Impor tua lei, secar cada poço
É guerra perdida perante a vaidade
Larga à entrada as vestes de rei
Que a torre tem dona, que nua te engana.
Escolhe a muralha de fendas saradas
E vê nessas fendas, mulher triunfada.
(...)
Regresso então a quem sempre fui
Muralha com fendas, jamais conquistada!
Sou bandeira à lua p'la vida açoitada
Retomo a força a mim confiada.
Trovoada que brada... e chuva cantada
Prova que vida não é encantada.
(...)
Calai-vos mulher choras as percas
Escondidas por trás de lágrimas fartas
Desapega das vestes de moira encanta
Mostrai a armadura por medos forjada.
Apossa-te hoje do ser que tu és
E grita bem alto o nome Mulher.
Maria do Vento
(Heterónino)




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